quarta-feira, 4 de julho de 2007

A ida de Zé Mandacaru ao shoping

Eu moro em Mandacaru
Lá pras banda do sertão
Aqui apesar da seca
Se percebe evolução
Hoje em noite de lua
Ninguém mais fica na rua
Só quer ver televisão

No começo eu resisti
Mas tive que adaptar
Demorou pra mais de mês
Pra poder me acostumar
Hoje assisto a novela
E percebo que sem ela
Não iria agüentar

Na telinha tem de tudo
Não é só novela não
Os desenhos pras crianças
Garante animação
Se a noite vem chegando
Eu já vou me aprontando
Pra saber a informação

Outro dia distraído
A tv eu assistia
Fiquei tão maravilhado
Com aquilo que eu via
Era um tal de shopin cente
Um lugar cheio de gente
Em perfeita harmonia

Fui dormir naquela noite
Sem conseguir esquecer
Toda aquela felicidade
Que eu vi lá na tv
Com o lugar eu sonhei
Se é igual eu não sei
Tenho que ir conhecer

-Mulher tu te acorda
Escute o que eu vou te falar
Te arruma bem depressa
Que nós vamos passear
Vamos dar um carrerão
Pra não perder a condução
Eu não quero me atrasar

Vesti minha roupa de festa
Pra poder impressionar
A mulher ficou bonita
Ela sabe caprichar
Desse jeito não receio
Nós não pode fazer feio
Todo mundo vai gostar

Nunca mais eu tinha visto
Minha véia tão bonita
Tirou do guarda-roupa
O belo vestido de chita
Botou fivela no cabelo
Se olhando no espelho
Parecia uma artista

Até chegar ao Recife
A viagem demorou
Chegando, subi no ônibus
E pedi ao cobrador:
-Por favor ajude a gente
A chegar no shopin cente
Agradeço ao senhor

Quando chegou na parada
Ele disse:-pode saltar
Comecei logo a tremer
Não podia acreditar
Deu um frio na barriga
Dessa vez não foi lombriga
Nem vontade de obrar

Chegando logo na entrada
Não acreditei no que via
Grande a quantidade de carro
Que pra mim nem existia
Se fosse pra eu contar
Eu não ia agüentar
Gastaria uns vinte dia

Quando cheguei na porta
Pensei que fosse assombração
Ela se abriu sozinha
E não foi porteiro não
A mulher parou em pé
Olhou pra mim e disse:-Zé
Eu aí não entro não

Deixe logo de besteira
Você não observou
Enquanto tu só reclama
Meio mundo já entrou
Agora se quiser ficar
Eu não vou te acompanhar
Dá licença que eu já vou

Quase não acreditei
Em tudo aquilo que eu via
Lugar lindo como esse
Eu não vejo todo dia
Minha máquina eu peguei
E o flash eu liguei
Pra bater fotografia

A mulher entrou mais eu
Eu não tinha reparado
Quando eu dei por fé
Ela tava do meu lado
Ela falou:-marido
Eu to de queixo caído
Que lugar mais arretado

Passada a euforia
Comecei prestar atenção
Lugar iluminado como esse
Eu não tinha visto não
Minha cabeça ficou tonta
Só porque pensei na conta
É pra mais de um milhão

O dono deve ser rico
Ele não liga pra nada
O dia ainda tá claro
E a luz já tá ligada
Se eu fosse o patrão
Não permitia isso não
Tava tudo apagada

Grande susto eu levei
Quando subi na escada
Ele te sobe sozinha
Não precisa fazer nada
O ruim mesmo é sair
Só porque me distrai
Eu levei uma topada

Depois de tanto andar
A fome começou a bater
Restaurante tem de sobra
O difícil é escolher
Tanto faz qual o recheio
O que importa é prato cheio
O que eu quero é comer

Na hora que veio a conta
Grande foi minha surpresa
Eu dei um pulo para trás
Quase que quebrei a mesa
A comida foi gostosa
Porém muito valiosa
Disso eu tive a certeza

O dinheiro que era pouco
Quase acabou ali
E a comida nem foi muita
Agüentava repetir
Entreguei todo dinheiro
Praquele garçom fuleiro
Ainda tive que sorrir

Confesso que ao sair dali
Tava meio atordoado
Pra ganhar aquele dinheiro
Muito eu tinha suado
Na hora que entreguei
Quase que eu desmaiei
Fiquei muito agoniado

Minha mulher me avisou
Isso não posso negar
Sou caboclo do sertão
Esse não é meu lugar
Eu agora vou embora
Já chegou a minha hora
Nunca mais quero voltar

“Os senhor da capitá
Me adescupe a expressão”
Mas prefiro Toritama
E não tem pareia não
Mesmo com pouco dinheiro
Faço compra o dia inteiro
Ainda encho o caminhão